quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sobre Atuar...

Encantamento

Ele está lá diante de uma platéia atenta, em suspense, quase quinhentas pessoa em olhos vivos, nada se ouve alem dos passos daquele que é o objeto da atenção de diversas gentes, únicas com vidas e históricos diferentes quase sem respiração a olhos e ouvidos abertos esperando a próxima ação, fala, ou reação deste que está “sob luzes brandas e músicas invisíveis”, gerando vida a um ser existente em linhas dramáticas, projetado pelo ator, diretor, referencia e gêneros.

Ele está prendendo, absorvendo a atenção por uma cena que apesar de efêmera pode durar dias, anos,e gerações na memória de quem assiste,fazendo-se conhecer o ator, diretor, dramaturgo, equipe ou grupo que se coloca á julgamento pelos mais e menos conhecedores da arte teatral.E caminhado vai se colocar a seguir pelas quase quinhentas pessoa que estão amalgamadas por todo o conjunto.O seu corpo reluz como por mágica sem o auxilio de maquiagem e cenotecnia. Suas falas reverberam por todo espaço do fundo do palco ao hall de entrada do edifício.

E vai conduzindo a todos inicio ápice, e fim de seu trabalho, até que este dia se encerre, e antes que as cortinas se fechem a platéia atônita por tanta verossimilhança e liberdade levanta-se toda até os camarotes para aplaudir emocionada e agradecida por um momento único de alguns minutos de ludicidade.

O ator caminhando,dançando,cantando,chorando,rindo ou em silencio gera encantamento à platéia que entregue, ri chora,se incomoda,felicita-se enfim se deixa sentir algo por aquele(s) que como um imã invisível emana seu trabalho sua técnica com um “simples” gesto quer seja no palco, arena, praça ou prédio abandonado.Este exemplo de ator que detém toda a platéia possui uma atração diferente ao corpo cotidiano e comum que normalmente usamos, ele possui técnica, estudo, pratica e presença/energia.

Fatores descritos no tema Antropologia Teatral que é foco de trabalho do celebre Eugenio Barba(foto) o fundador de uma das mais conceituadas companhias teatrais o Odin Teatret fundado em 1964 . Barba é hoje considerado um dos mais importantes nomes da Antropologia Teatral, que estuda o comportamento cênico pré-expressivo que se encontram na base dos diferentes gêneros, estilos, papéis, e das tradições pessoais e coletivas.

E descreve que o trabalho do ator funde em um único perfil três aspectos diferentes correspondentes a três níveis de organização bem distinguíveis. O primeiro aspecto é individual. O segundo é comum a

todos aqueles que praticam o mesmo gênero de espetáculo. O terceiro concerne aos atores de tempos e culturas diferentes.

Estes três aspectos são:

1. A personalidade do ator, sua sensibilidade, sua inteligência artística, sua individualidade social que torna cada ator único e irrepetível.

2. A particularidade da tradição cênica e do contexto histórico-cultural através dos quais a irrepetível personalidade do ator se manifesta.

3. O uso do corpo-mente segundo técnicas extra-cotidianas baseadas sobre ‘princípios que retornam’ transculturais. Estes ‘princípios que retornam’ constituem aquilo que a Antropologia Teatral define como campo da pré-expressividade. (1)

O corpo todo pensa/age com uma outra qualidade de energia e ter energia significa saber modelá-la: "um corpo-mente em liberdade afrontando as necessidades e os obstáculos predispostos, submetendo-se a uma disciplina que se transforma em descobrimento." A utilização extra-cotidiana do corpo-mente é aquilo que ele chama de "técnica". Uma ruptura dos automatismos do cotidiano. Barba define energia como "a potência nervosa e muscular do ator". Estudar a energia do ator, segundo ele, significa examinar os princípios pelos qual o ator pode modelar e educar sua potência muscular e nervosa, de acordo com situações não-cotidianas. (...) Barba ainda nos diz que energia não é esse ímpeto externo, esse excesso de atividade muscular e nervosa, mas se “refere a algo íntimo, algo que pulsa na imobilidade e no silêncio, uma força retida que flui no tempo sem se dispersar no espaço”. (2).

Talvez a energia e presença de um ator seja algo impalpável e difícil de ser descrito objetivamente, mas fato é que estes são objetos de busca por estudantes e atores que por técnicas e estudos diversos almejam obter estes itens indispensáveis na hora de atuar, pois é esta presença e energia vinda do ator que o fazem tão atraente no palco,ou qualquer lugar em que esteja representando.

Luiza Vitorio

(Atriz do grupo Híbridos de Teatro)

Fontes de pesquisa na internet:

  • 1-http://www.ciacarona.com.br/index.phpoption=com_content&view=article&id=152:antropologiateatral&catid=66:cat-textos&Itemid=98
  • 2-http://www.caleidoscopio.art.br/cultural/artescenicas/teacontemp/eugeniobarba06.html
  • -http://pt.wikipedia.org/wiki/Eugenio_Barba

Bibliografias:

Ø Barba, Eugenio – A Arte Secreta do Ator: Dicionário de Antropologia Teatral. Editora Hucitec, São Paulo

Ø Barba, Eugenio - A Canoa de Papel. Editora Hucitec, são Paulo, 1994

Link Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=X_xPHxAbqjQ




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